sexta-feira, dezembro 12, 2008

Quadratura do Círculo

3 – Informe-se sobre o nome dado ao programa que acabou de ouvir.

MR.: É um programa no qual participam: o apresentador mais três convidados, de ideologias diferentes, para falarem de determinado tema actual. O nome do programa é derivado de uma expressão que se usa para expressar a impossibilidade de resolução de um problema geométrico.

4 – Reflicta sobre a utilidade deste tipo de programas televisivos.

MR.: Na minha opinião não servem para nada a não ser para ocupar o espaço (tempo) televisivo que está livre. Quatro pessoas reunidas à volta de uma mesa durante algum tempo, a falarem sobre um tema da actualidade, mas no final não chegam a uma conclusão ou resolução.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Verbete de Palavra inventada, não dicionarizada

Acas.m. 1.arco; 2.roda pequena, feita em ferro ou arame grosso na qual se prende um freio do mesmo material, que serve para as crianças brincarem; 3.interjeição africana.

Ão s.m. 1.homem; 2.ser masculino na fase adulta; 3.género oposto de mulher.

Ucas. 1.Ruca; 2.diminutivo de Rui; 3.nome próprio na língua infantil.

Frase exemplificativa em que se empregam as três palavras:

O Uca é um ão a jogar o aca. (O Ruca é um homem a jogar ao arco).

domingo, novembro 16, 2008

The Constante Gardner


Este filme, mostra a pura realidade do mundo em que vivemos.

Haverá sempre o contraste entre os ricos e os pobres nas grandes cidades, nas grandes capitais.

Haverá sempre dor, sofrimento, injustiça para o lado do mais fraco; este, infelizmente é e será sempre o povo africano.

Haverá sempre indústrias a quererem testar os seus produtos, alegando terem o medicamento certo para o mal que os afecta, e a troco, muitas vezes, de um prato de comida, coitados, fazem tudo pensando que será para o bem deles.

Só vivendo de perto com esse povo tão sofrido, se pode valorizar o que passam. Enquanto os todo-poderosos vivem à grande, sendo que a única preocupação é saber quantos milhões aquele produto vai render, independentemente se causa mortes ou não.

Esta é a realidade que eu vi neste filme, vivendo de perto como eu já vivi o drama destas pessoas.



sábado, novembro 08, 2008







Literatura - Século XIX

A actividade literária do século XIX é verdadeiramente impressionante, não só pela diversidade ou pela qualidade como também pela quantidade! Aqui, novamente a disputa entre o Romantismo e o Realismo, entre o antigo e o novo, entre a forma e o conteúdo.

A literatura nesta época é caracterizada por uma maior liberdade na inspiração e uma maior consciência científica na reflexão. Estes dois caracteres, sucedendo-se em preponderância, subdividem este movimento em dois períodos: o primeiro que se pode chamar romântico, o segundo que se pode designar como crítico (realismo, naturalismo). Ambos, em Portugal como na Europa, representam uma regressão à Natureza: no primeiro período sob uma forma tumultuária e inconsciente, no segundo sob uma forma reflexa e filosófica. Daí a superioridade da epopeia e do drama no primeiro, e do romance e da crítica no segundo.

O Romantismo português está sobretudo ligado a Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Feliciano de Castilho. Obras como: Frei Luís de Sousa e as Folhas Caídas são tipicamente românticas.

O Realismo está relacionado com Antero de Quental, Eça de Queirós e Oliveira Martins (Geração de 70). Esta geração agitou a literatura portuguesa e de modo mais amplo, a própria cultura portuguesa na célebre Questão Coimbrã. Portugal Contemporâneo (Oliveira Martins), Os Maias (Eça) e Odes Modernas (Antero de Quental) são os principais exemplos deste movimento.


Pintura - Século XIX

Ao nível da pintura, evoluiu-se do Romantismo para o Realismo (opostos). Na segunda metade do século, apareceu o Impressionismo.

Assim, passou-se de um estilo no qual a forma era o mais importante (muitas vezes falseava-se o conteúdo para obter mais bonitas formas) – Romantismo – para um estilo onde o conteúdo passou a ter maior preponderância (tudo passou a ser retratado com maior rigor, eventualmente, cientifico) – Realismo. As principais figuras da pintura desta época são ainda hoje muito reconhecidas por todos. A forma mais extrema do Realismo é o Naturalismo (retrato exacto da Natureza).

Conto: A Loura Esperta

Menina Vilaça de apelido, Luísa, assim se chamava a bela loura de cerca de vinte anos, vivia com sua mãe, igualmente bela mas de cabelo preto e anelado, numa casa cuja vidraça tinha uma cortina de cassa bordada.

Luísa, tinha pele branca e ao mesmo tempo rosada fazendo lembrar velhas porcelanas; ar fresco e fino, como se se tratasse de uma medalha antiga (diriam velhos poetas pitorescos); conjunto de “virtudes” que chamavam a atenção de qualquer rapaz da época.

Esta bela loura que só gostava de usar coisas finas a condizer com o seu ar, escondia atrás de toda essa aparência, algo que só mais tarde, aquele por quem se apaixonou viria a descobrir.

Pois é, foi assim que o otário do Macário caiu que nem um patinho e quase se “enforcou”, coitado. Também, quem não cairia? Ver uma bela loura encostada ao peitoril da varanda, com um vestido de cassa com pintas azuis, de lenço de cambraia trespassado sobre o peito, as mangas pendidas com rendas, de leque na mão pequena, meiga e amorosa, com unhas polidas como marfim… Bem, a questão do leque deixou o pobre do rapaz intrigado e ao mesmo tempo curioso!

É que o leque era muito rico e fino! Era uma ventarola chinesa, redonda, de seda branca com dragões escarlates bordados à pena, uma cercadura de plumagem azul, fina e trémula como uma penugem, e o cabo de marfim, donde pendiam duas borlas de fio de ouro com incrustações de nácar à maneira persa! Um leque desses, maravilhoso, naquele tempo não era para qualquer uma!

Foi assim que a bela loura chamou a atenção do rapaz otário, desculpem, Macário. Mas ela também reparou nele, a safada! E como o tinha já debaixo de olho, vai com a mãe fazer compras. Mas sem dinheiro, claro! Ainda por cima comprar casimiras pretas! Estão a ver a fisgada, não estão? Vão ao armazém comprar um tecido que não vai ser útil, só para ela o ver de perto, falar com ele. Possivelmente já devia saber quem era ele! Ela era loura, mas não era burra! Com aquele ar simples, indiferente…hum… está-se mesmo a ver o que ela queria! Fisgá-lo, lógico!

Coitado do Macário! Ficou louquinho por ela; tão louco que se zangou com o tio por causa da loura! Mas ainda bem que não casou com ela! Porque, vejam lá! num dia em que ele a leva às compras para o casamento, enquanto a mãe escolhe o tecido para o vestido, ela, como quem não quer a coisa, leva-o para a ourivesaria. Ele aproveitou para comprar-lhe um anel de noivado. Mas ela que já tinha pensado na marosca, ia examinando as montras de veludo azul, onde reluziam as grossas pulseiras cravejadas, os grilhões, os colares de camafeus, os anéis de armas, as finas alianças frágeis como o amor (amor, pois sim!).

A safada, enquanto o caixeiro mostrava anéis a Macário, ia experimentando, dizendo que não a uns e outros, porque uns eram grandes, outros pequenos, outros ainda eram feios. No meio da confusão, mas debaixo do olho do caixeiro (ele não era parvo), com a mão de cera, com veias docemente azuladas e dedos finos e amorosos (aproveitou-se disso!), toca de tirar um anel e escondeu-o. Mas como o caixeiro era de Olhão, reparou e não deixou que saíssem da loja sem que o pagassem. Claro, eu faria o mesmo! Só assim o Macário ficou a saber quem era a noivinha, ou seja, uma ladra. Era assim que ela conseguia as coisas caras.

sábado, novembro 01, 2008

HISTORIA DE VIDA

Nasci na Vila de Ambriz, em Angola, em Março de 1956. Aos 10 meses os meus pais foram para Luanda, onde vivi até aos 19 anos.

Fui baptizada com 5 anos numa igreja muito bonita: Igreja Nossa Senhora da Nazaré, no dia 10 de Maio.

Com 6 anos entrei para a escola.

Quando tinha 8 anos, a caminho da Vila de Caxito, onde o meu pai trabalhava como gerente duma firma (e onde eu e os meus irmãos passávamos férias), os meus pais tiveram um acidente que quase lhes tirou a vida. Nesse acidente a minha mãe perdeu o antebraço e quase perdeu a vista.

Completei o ensino primário com 9 anos. Nesse ano lectivo fiz a 1.ª comunhão na Igreja da Sagrada Família, com um vestido que já não pôde ser feito pela minha mãe pelos motivos já referidos.

Entrei para o 1.º ciclo com 9 anos e aí começou a minha derradeira caminhada nos estudos, pois cada ano escolar era feito em dois. Não por burrice, mas por preguiça de estudar o que levou também ao desinteresse pelos estudos. Até que, por volta dos meus 15, 16 anos, não podendo já matricular-me de dia no liceu, mas com possibilidade de ir para uma escola técnica por ter passado no exame de admissão feito após a 4.ª classe, iniciei os estudos na Escola Comercial no Curso Geral de Administração e Comércio. Pelas bases que eu levava – porque fica sempre alguma coisa guardada ou porque talvez fosse já vocação para a área – finalmente comecei a ter interesse pelos estudos e tinha-os mesmo encarreirados.

Mas, infelizmente para mim, deu-se a Revolução de Abril. O que para mim estava a começar a ser a sério e bonito, de repente... Foi como se estivesse a meio duma construção com peças de dominó e com um simples gesto viesse abaixo tudo o que já tinha construído.

Tivemos que deixar a casa – construída com muito sacrifício 50 anos depois de o meu pai ter ido para Angola – pois o meu pai esteve à morte por ter sido atacado perto de casa, e um ano depois viemos para Portugal.

Vi-me num país estranho e com os meus pais a viver com dificuldades, o interesse pelos estudos era nenhum, para além de não ter encontrado também quem me indicasse uma escola para que eu pudesse continuar a estudar.

Por volta de 1977/78 surgiu uma oportunidade de trabalho; numa pastelaria no Terminal do Rossio – Pastelaria Kinaxixe. Como iria trabalhar por turnos e com receio que algo acontecesse à única filha que nunca saiu de casa a não ser para estudar, e embora tivesse já 21 anos, foi com muito custo que o meu pai deu autorização para trabalhar. Foi o meu 1.º emprego. Uma boa experiência para começo de vida, por lidar com o público. Trabalhei 2 anos, ao fim dos quais me despedi, porque infelizmente sou um bocado temperamental e não aceito determinadas coisas. Entretanto o meu pai ofereceu-me o curso de dactilografia. Depois, através de um anúncio de jornal, arranjei trabalho numa Escola de Dactilografia onde exercia as funções de dactilógrafa, porque a Escola também recebia trabalhos para serem dactilografados.

Em Junho de 1981 conheci o meu companheiro e mais uma vez a minha vida tomou outro rumo. Juntos os trapinhos, poucos meses depois vi o meu sonho de ser mãe a começar a concretizar-se.

Quando tinha 8 meses de gravidez, o meu marido foi trabalhar para o Sudão, como chefe de armazéns duma fábrica de açúcar – Kenana Sugar & Co. – e por isso não assistiu o nascimento da nossa filha mais velha. Fomos ter com ele, tinha ela 5 meses. Vivi momentos muito bons e felizes durante os 6 meses que lá estivemos – eu e filha. Vivíamos numa zona quase desértica, em que só havia vegetação graças aos sistemas de canalização feitos para que houvesse um modo de a fábrica funcionar e as condições mínimas de vida dos funcionários (que na maioria eram cooperantes de diversos países). Apesar de a fábrica ser a 3.ª maior do mundo – na altura era, e com isso trazia uma das riquezas do país: o açúcar – o povo continuava a ser pobre.

O povo sudanês é um povo muito ligado às tradições. A mulher continua a ser muito subjugada, embora haja mulheres que conseguem atingir os seus objectivos evoluindo profissionalmente, ainda assim com muitas limitações. Na classe mais baixa, a chamada classe pobre, a mulher é limitada à casa e ao cultivo ou outros trabalhos mais forçados. Na zona onde estive, não se via uma mulher a trabalhar em casas particulares, isso era para o homem.

Findo o contrato, regressámos a Portugal.

Em finais de 1985 o meu marido foi outra vez para fora. Desta vez para Maputo, Moçambique, trabalhar como monitor numa firma portuguesa – Entreposto.

Moçambique, terra boa, de povo acolhedor, humilde, com atitudes e maneiras bem tradicionais, muito próprias! Povo alegre; podemos comparar um pouco com o povo brasileiro; podem ter pouco que comer, mas havendo música, fazem uma festa (um dos pontos que comoveu o já falecido Papa João Paulo II aquando da sua visita a Moçambique). Alguns meses depois de estar em Maputo, engravidei da minha filha mais nova. Como não estava a passar bem nos primeiros meses, receoso que algo corresse mal devido à falta de condições de uma maneira geral no sector hospitalar, o meu marido mandou-me para Portugal. Aqui estive até a minha filha completar os 3 meses de idade, altura em que regresso a Moçambique. Pouco tempo depois o meu marido foi transferido para o norte – Cidade de Nampula. Mais uma terra para conhecer, com muitas dificuldades, muita falta de água e cortes diários de energia, mas com o tempo, a adaptação foi boa; fiz boas amizades. Dois anos depois, regressámos a Maputo porque era altura da filha mais velha entrar para a escola e só aí é que havia escola portuguesa. Foi mais ou menos nessa altura que através do meu marido, entrei para a Doutrina Espírita. Mais dois anos e voltámos para Portugal e para ficar. Com tristeza deixei para trás amizades e aquela terra de bom clima e de povo humilde para onde voltaria hoje mesmo se fosse possível.

Pouco tempo depois, as dificuldades surgiram. Sem trabalho, com duas filhas para criar, uma delas na escola... Por indicação duma pessoa amiga fui inscrever-me na Cablesa – fábrica de cablagem de automóvel – onde trabalhei a soldar terminais nos fios eléctricos, durante 6 meses. Ao fim desse tempo, recebi a carta de despedimento. Foi uma experiência muito boa, que me permitiu compreender o trabalho de fábrica. Durante 1 ano e meio estive a receber do desemprego e a cuidar das filhas auxiliando-as nos trabalhos escolares. Quando o desemprego acabou e como o ordenado do meu marido era baixo, através do padre da paróquia de Mira Sintra, comecei a trabalhar a horas numa casa particular. Depois arranjaram-me mais três casas. Entretanto surgiu-me a oportunidade de trabalho na escola, onde estou até agora exercendo as funções de Auxiliar de Acção Educativa, mantendo uma das casas só para ir passar a ferro.

Trabalhar como auxiliar numa escola, é algo que nos enriquece; passamos a conhecer o mundo do outro lado do estudante. O lado que enquanto estudante eu não conhecia. No meu tempo, encontrávamos as salas limpas, mas quase não víamos (eu pelo menos) o pessoal auxiliar. É também conhecermos um pouco melhor aquele lado ao qual não tínhamos acesso, que é o lado dos professores. Lidamos mais directamente com eles, ganhando muitas vezes amizade com alguns. É saber lidar com os alunos, ficar a conhecer o verso da medalha. É ficar a conhecer, muitas vezes, os problemas pelos quais muitos dos alunos passam em casa; começarmos a compreender um pouco o porquê das dificuldades que muitos alunos têm na aprendizagem, no lidar e no conviver com os outros, no relacionamento com os colegas e até mesmo com os professores e auxiliares.

Em 2002, surgiu a oportunidade de adquirir as competências do nono ano através do RVCC, inscrevi-me e lá fui, aliás esta história de vida foi começada para o portefólio do nono ano.

Gostei muito, aprendi alguma coisa, conheci gente nova, tive a oportunidade de fazer um pequeno aprofundamento de TIC, o que me foi muito útil para que eu pudesse passar os meus trabalhos a computador.

Durante estes anos de trabalho nesta escola, tenho feito algumas acções de formação, como por exemplo: Escola Promotora de Saúde, Higiene, Segurança e Saúde nas Escolas, Comunicação e Relações Interpessoais, Curso de Computadores: Iniciação, Aprofundamento e Internet.

Ao fim de 10 anos a trabalhar na que é hoje a sede do agrupamento D. Domingos Jardo, fui posta a trabalhar numa das escolas do 1.º ciclo que a ele estão agregadas: a EB1 da Baratã. É uma escola pequenina, com uma única turma de alunos dos quatro anos lectivos, apesar de estar no meio de habitações grandes e quintas, é uma escola isolada, muito fria no Inverno devido a tanto arvoredo que tem à volta.

No início foi-me muito difícil adaptar-me à mudança. Habituada ao movimento duma escola grande, a ter colegas com quem conversar à hora do almoço, a ter uma colega com quem desabafar um ou outro problema, de repente vi-me sozinha, sem ninguém com quem falar a não ser a professora. Com o tempo, fui-me habituando e embora ainda me custe ir para aquele fim do mundo (como eu costumo dizer), já estou mais ambientada, tenho um bom relacionamento com a professora e com os meninos. Meninos muito diferentes dos da outra escola; com muito mais problemas em todos os aspectos. Não fosse a força de vontade da professora e o interesse por eles, muitos não iam à escola.

Em 2007, através de uma colega muito querida, soube destes Cursos EFA. Inscrevi-me, e aqui estou a tentar fazer o meu 12.º ano. Tem sido uma experiência muito boa; a turma não poderia ser melhor; parece que foi escolhida a dedo; os professores também. Tenho tido algumas dificuldades, mas com um pouco de ajuda deste ou daquele colega, dos professores, da professora com quem trabalho e das minhas filhas, vou conseguindo ir em frente. Tenho tido a oportunidade de conhecer assuntos dos quais nunca pensei vir a saber, porque nunca me interessou; aprendendo coisas de que não tinha conhecimento; e espero vir a conseguir o objectivo a que me propus.


sexta-feira, outubro 31, 2008

Caixa de Pandora


A caixa de Pandora é uma expressão muito utilizada quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser revelado ou estudado, sob pena de se vir a mostrar algo terrível, que possa fugir de controlo. Esta expressão vem do mito grego, que conta sobre a caixa que foi enviada com Pandora a Epimeteu.

Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu, antes de ser condenado a ficar 30.000 anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido pelo abutre Éton todos os dias, alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar presentes de Zeus.

Epimeteu, no entanto, ignorou a advertência do irmão e aceitou o presente do rei dos deuses, tomando Pandora como esposa. Pandora trouxe uma caixa (uma jarra ou ânfora, de acordo com diferentes traduções), enviada por Zeus em sua bagagem. Epimeteu acabou abrindo a caixa, e liberando os males que haveriam de afligir a humanidade dali em diante: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. No fundo da caixa, restou a Esperança (ou segundo algumas interpretações, a Crença irracional ou Credulidade). Com os males libertados da caixa, teve fim a idade de ouro da humanidade.

Interpretação

Pode perguntar-se quanto ao sentido desta lenda: por que uma caixa, ou jarra, contendo todos os males da humanidade conteria também a Esperança? Na Ilíada, Homero conta que, na mansão de Zeus, haveria duas jarras, uma que guardaria os bens, outra, os males. A Teogonia de Hesíodo não as menciona, contentando-se em dizer que sem a mulher, a vida do homem não é viável, e com ela, mais segura. Hesíodo descreve Pandora como um "mal belo" (καλν κακν/kalòn kakòn).

O nome "Pandora" possui vários significados: panta dôra, a que possui todos os dons, ou pantôn dôra, a que é o dom de todos (dos deuses).

A razão da presença da Esperança com os males deve ser procurada através de uma tradução mais acurada do texto grego. A palavra em grego é λπίς/elpís, que é definida como a espera de alguma coisa; pode ser traduzida como esperança, mas essa tradução seguramente é arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o temor irracional. Graças ao fechamento da jarra por Pandora no momento certo, os homens sofreriam somente dos males, mas não o conhecimento antecipado deles, o que provavelmente seria pior.

Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis. Prometeu felicita-se assim de ter livrado os homens da obsessão com a própria morte. Uma outra interpretação ainda sugere que este último mal é o de conhecer a hora de sua própria morte e a depressão que se seguiria por faltar a esperança.

Um outro símbolo está inserido neste mito. A jarra (pithos) nada mais é que uma simples ânfora: um vaso muito grande, que serve para guardar grãos. Este vaso só fica cheio através do esforço, do trabalho no campo, seu conteúdo então simboliza a condição humana. Por consequência, será a mulher que a abrirá e a servirá, para alimentar a família.

A mentalidade politeísta vê Pandora como a que deu ao homem a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e da adversidade (o que os monoteístas chamam de males). Ela lhe dá assim a força de enfrentar estas provas com a Esperança. Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Biografias : Bocage e O'Neill









Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage, nasceu em Setúbal a 15 de Setembro de 1765.

Filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa (também ele poeta), nascido em Setúbal em 1728, juiz de fora (cargo que exercia durante o terramoto de 1755). Em 1765, foi nomeado ouvidor em Beja. Acusado de ter desviado a “décima” enquanto ouvidor, possivelmente uma armadilha para o prejudicar visto ser próximo de pessoas que foram vítimas em Pombal, foi para o Limoeiro preso em 1771, nunca chegando a fazer defesa das suas acusações. Com a morte do rei D. José em 1777, dá-se “viragem” que lhe valeu a liberdade, voltando para Setúbal onde foi advogado. Sua mãe D. Mariana Joaquina Xavier l’Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era francês, era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa, madame Marie Anne Le Page du Bocage.

A sua infância foi infeliz. Para além da prisão do pai quando ele tinha seis anos, durante seis anos, a sua mãe faleceu quando ele tinha dez anos.

Possivelmente ferido por um amor não correspondido, assentou praça como voluntário em 22 de Setembro de 1781, permanecendo no exército até 15 de Setembro de 1783 altura em que se alistou na marinha de guerra, embarcando para a Índia três anos depois. Viveu em Goa, Damão e Macau. Foi admitido na Escola da Marinha Real, onde fez estudos regulares para guarda-marinha. No final do curso desertou, mas, ainda assim, foi nomeado guarda-marinha por D. Maria I.

Apesar das biografias publicadas após a sua morte, boa parte da sua vida permanece um mistério. Não se sabe ao certo os seus estudos, embora se deduza pela sua obra, que tenha estudado os clássicos e as mitologias grega e latina e que estudou francês e latim.

Bocage foi um dos primeiros a anunciar a modernidade em Portugal, pelos conflitos que dão força e contundência a seu estilo poético. No seu regresso a Lisboa (1790), apaixonou-se pela mulher do irmão e entregou-se à boémia, escrevendo versos sobre a desilusão amorosa e as dificuldades materiais.

Aderindo à Nova Arcádia com o nome de Elmano Sadino, logo satirizou os confrades e afastou-se do grupo, continuando rebelde e obcecado pelo paralelismo biográfico com Camões.

Em 1797 foi preso ao divulgar o poema “Carta a Marília”, que começa com “Pavorosa ilusão de eternidade”. Acusado de impiedade e anti-monarquismo, passou meses nas masmorras da Inquisição, de onde saiu para o Convento dos Oratorianos conformando-se às convenções religiosas e morais da época. De volta à liberdade, Bocage levou uma vida regrada mas melancólica e de privações, traduzindo autores latinas e franceses.

Maior poeta da língua no século XVIII, Bocage é vítima até hoje de sua própria fama e dos preconceitos que despertou. Sonetista admirável e frequentemente à altura do seu ídolo Camões, excede-o aqui e ali no seu arrojo e no niilismo dos motivos: “Louca, cega, iludida humanidade” é algo já distante da atitude clássica e tem um último verso que chega a parecer existencialista: “Pasto da Morte, vítima do nada!”. Assim é também seu individualismo, seu conflito entre o amor físico e a morte, sua morbidez a atracção pelo horror, em meio a versos, às vezes, quase coloquiais.

Bocage publicou apenas as Rimas (1791/1804), em três volumes. Seus versos eróticos e burlescos circulam ainda hoje em edições clandestinas.

Morreu em Lisboa em 21 de Dezembro de 1805.



Alexandre O'Neill

Poeta português, descendente de irlandeses, Alexandre O'Neill nasceu no dia 19 de Dezembro de 1924 na cidade de Lisboa. Filho do bancário António Pereira de Eça O'Neill de Bulhões e de Maria da Glória Vahia de Castro O'Neill de Bulhões, dona de casa, Alexandre, depois de concluir os estudos do Liceu, ingressa na Escola Náutica de Lisboa (Curso de Pilotagem). Em 1944, após concluir o 1º ano, solicitou, junto à capitania de Lisboa, a cédula marítima, que lhe permitira exercer a função de piloto. O pedido foi-lhe negado por causa da sua miopia.

Trabalhou na Providência no ramo dos seguros, nas bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian e foi técnico de publicidade. Durante algum tempo, publicou uma crónica semanal no Diário de Lisboa.

Datam do ano de 1947, duas cartas de O’Neill que demonstram o seu interesse pelo surrealismo, dizendo numa delas possuir os Manifestos de Breton e a Histoire du Surrealisme de M. Nadeau. Por volta de 1948, fundou com o poeta Cesariny, José Augusto França, António Pedro e Vespeira o Grupo Surrealista de Lisboa.

Em 1949 Alexandre O’Neill publicou “A Ampola Miraculosa”, constituída por 15 imagens, sem qualquer ligação e respectivas legendas, sem que entre imagem e legenda se estabelecesse um nexo lógico; o que torna altamente irónico o subtítulo da obra “romance”. Esta obra poderá ser considerada paradigmática do surrealismo português.

Foram lançados ainda nesse ano, os primeiros números dos Cadernos Surrealistas. Em Maio do mesmo ano, foi a vez do Grupo Surrealista Dissidente, organizar uma série de conferências com o título geral “O Surrealismo e o Seu Público”, em que António Maria Lisboa leu o que se pode considerar o primeiro manifesto surrealista português.

Depois de uma fase de ataques pessoais entre os dois grupos (1950/52), que atingiram sobretudo José Augusto França, e após a morte de António Maria Lisboa, extinguiram-se os grupos surrealista, continuando todavia o surrealismo a manifestar-se na produção individual de alguns autores, incluindo o próprio Alexandre O’Neill, que se demarcar, já em 1951, no “Pequeno Aviso do Autor ao Leitor”, inserido em “Tempo de Fantasmas”.

Na segunda parte da obra, “Poemas” (1950/51), essa influência, embora ainda presente, é atenuada, como acontecerá em “No Reino da Dinamarca” (1958) e “Abandono Vigiado” (1960). A poesia de Alexandre O’Neill concilia uma atitude de vanguarda (surrealismo e experiências próximas do concretismo) – que se manifesta no carácter lúdico do seu jogo com palavras, no seu bestiário, que evidencia o lado surreal do real, ou nos típicos “inventários” surrealistas – com a influência da tradição literária (de autores como Nicolau Tolentino e o abade de Jazente, por exemplo).

Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses, destruindo a imagem de um proletário heróico criada pelo neo-realismo, a que contrapõe a vida mesquinha, a dor do quotidiano, vista no entanto sem dramatismos, ironicamente, numa alternância entre a constatação do absurdo da vida e o humor como única forma de se lhe opor.

Alexandre O’Neill morre em 1986.








AUTO-RETRATO


Morena,
De cabelos já grisalhos;
Pequenina,
Mas chegando
Onde os mais altos chegam.
Africana de nascimento,
Que um dia
O negro homem expulsou
Da terra, pela cor da pele.
Bondosa, prestável, tranquila,
Dizem de mim;
De mau feitio às vezes e refilona,
Também.
Honesta e batalhadora,
Sei que o sou.
Amante da natureza
E tudo quanto é belo,
De um momento de Paz
E boa música, não abro mão.
Quem eu sou afinal!?
Margarida de primeiro nome
Rosa, mas sem espinhos, o segundo.

Amigos muito queridos
Um dia, de mim escreveram:

Generosa, até mais não,
Uma mulher de coragem,
Inconfundível de coração,
Dá-nos, de si, radiosa imagem,
A todos dando a sua mão.

Cem por cento caridosa,
É uma alma boa, em suma,
Sendo Margarida Rosa,
São duas flores em uma.”

Margarida é o seu nome
Ainda no berço lho deram
Raramente gosta de sair
Gordinha ela é, mas fica bem
Anda a pé quanto tem tempo
Ri com vontade quando acha graça
Inveja de ninguém, não sente
Dá amor, amizade a todos
Anda feliz mesmo que o mundo não esteja.”

sexta-feira, outubro 03, 2008

REFLEXÕES

“The blue eye”

Gostei muito deste documentário, porque infelizmente retrata a realidade. Ainda é o que se vê no dia-a-dia em pleno século XXI. Parece que as ideias do Hitler no que diz respeito ao “apuramento da raça”, em alguns casos, ainda persistem.
Gostei da actividade porque nela pude exprimir as minhas ideias sobre este assunto.


“Racismo e Discriminação”

Este trabalho, infelizmente, fez-me recuar no tempo. É muito difícil ultrapassar determinadas situações e principalmente esquecer o que nos fazem passar.
Tento não pensar, mas quando surgem momentos que, como foi agora o caso desta actividade, me fazem lembrar, sinto-me como se estivesse a passar novamente pelo mesmo.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Racismo e Discriminação

Reflexão

1 – Que situações da sua vida em que sentiu racismo e/ou discriminação?
MR.: Senti o racismo após o 25 de Abril em Luanda em que o meu pai quase foi morto por ser branco, e nós por sermos filhos dele. E a minha mãe, apesar de angolana, mas por ser de origem e viver com um branco, também foi insultada à porta de casa, num bairro onde todos vivíamos e convivíamos em comunidade.

2 – De que modo este tipo de situações pode limitar/condicionar os saberes adquiridos ao longo de vida?
MR.: Acho que quando somos criados e educados a olhar e aceitar os outros somo nosso semelhante, e quando realmente o fazemos, ao passar por situações como eu passei e outras pessoas passaram, ficamos a pensar: o que é que mudou e porque é que mudou.
No caso de África, acredito que tenha sido da revolta acumulada desde o tempo dos escravos e por aí fora. Só que quem os fez passar por isso, já lá não estava naquela altura, e como diz o ditado: “pagou o justo pelo pecador”.

Blue Eyes

Ficha de trabalho

1 – Antes do filme:
A – Será que as crianças odeiam de forma instintiva pessoas diferentes deles? Porquê?
MR.: Acho que não, embora sempre se encontre uma ou outra preconceituosa. Isso talvez se deva à falta de informação/educação da parte dos adultos.
B – Pode uma sociedade ser educada para odiar? Pode concretizar com exemplos da nossa história? E na nossa sociedade de hoje?
MR.: Pode e na nossa história podemos encontrar exemplos, como o caso da Alemanha hitleriana; o caso das ex-colónias; o caso da África do Sul com o apartheid. Na nossa sociedade de hoje temos o caso dos skinheads, a própria juventude de hoje, com a formação de gangs e todo a rivalidade que com isso se forma.
C – O que é o preconceito? É aprendido? Quem o ensina?
MR.: É uma ideia ou conceito pré concebido. Pode ser aprendido mas geralmente já nasce com a pessoa e quem ensina é a própria sociedade.

2 – Durante o filme:
Este acontecimento verídico foi filmado em 1964 depois do assassinato de Martin Luther King. Jane Elliot, uma professora do terceiro ano em Riceville, Iowa, fez uma experiência com os seus alunos durante a Semana da Irmandade. Observe como as crianças reagiram ao ser nomeadas como inferiores ou superiores durante aquele dia. O que verificou?
MR.: As crianças ficaram todas entusiasmadas com o facto de poderem entrar na brincadeira da professora. O que eu verifiquei foi: primeiro um sentimento de estranheza e admiração por não estarem habituados a serem tratados com diferença, porque a professora disse que os meninos de olhos azuis eram os mais espertos; depois um sentimento de tristeza por serem “proibidos” de brincar uns com os outros, que só podiam beber água em copos de papel achando mesmo que a professora já não gostava deles; e finalmente um sentimento de revolta por serem tratados com indiferença pelos colegas, chegando mesmo a baterem-se.

3 – Depois do filme:
A – Faz por vezes julgamentos sobre outros que pensam serem realmente preconceituosos? Explique.
MR.: Faço porque eu detesto o preconceito, logo não gosto de pessoas preconceituosas. Gosto de me dar com toda a gente, independentemente da raça ou religião, e dói-me ver por parte das outras pessoas atitudes que eu acho incorrectas.
B – Pode sugerir maneiras de reduzir o preconceito?
MR.: Acho que pode começar por toda a gente se dar bem; procurar viver em comunidade para depois se viver em sociedade.
C – O que pensa que deveria ser feito nas escolas para ensinar as crianças a apreciar os outros individualmente?
MR.: Ensinar-lhes a ver o outro como semelhante, como um ser humano como eles são. Que a diferença apenas existe na cor da pele.
D – Concorda com a afirmação de Mrs Elliot que “as crianças têm que descobrir. Têm que ser envolvidas… elas têm que sentir como é ser pisadas por outros…”? Porquê?
MR.: Concordo porque infelizmente o ser humano só aprende passando pelas situações. Só sabe dar valor ao que o outro passa e sofre, quando ele próprio passa pelo mesmo, quando sente na própria pele o que os outros sentem.