sexta-feira, outubro 31, 2008

Caixa de Pandora


A caixa de Pandora é uma expressão muito utilizada quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser revelado ou estudado, sob pena de se vir a mostrar algo terrível, que possa fugir de controlo. Esta expressão vem do mito grego, que conta sobre a caixa que foi enviada com Pandora a Epimeteu.

Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu, antes de ser condenado a ficar 30.000 anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido pelo abutre Éton todos os dias, alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar presentes de Zeus.

Epimeteu, no entanto, ignorou a advertência do irmão e aceitou o presente do rei dos deuses, tomando Pandora como esposa. Pandora trouxe uma caixa (uma jarra ou ânfora, de acordo com diferentes traduções), enviada por Zeus em sua bagagem. Epimeteu acabou abrindo a caixa, e liberando os males que haveriam de afligir a humanidade dali em diante: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. No fundo da caixa, restou a Esperança (ou segundo algumas interpretações, a Crença irracional ou Credulidade). Com os males libertados da caixa, teve fim a idade de ouro da humanidade.

Interpretação

Pode perguntar-se quanto ao sentido desta lenda: por que uma caixa, ou jarra, contendo todos os males da humanidade conteria também a Esperança? Na Ilíada, Homero conta que, na mansão de Zeus, haveria duas jarras, uma que guardaria os bens, outra, os males. A Teogonia de Hesíodo não as menciona, contentando-se em dizer que sem a mulher, a vida do homem não é viável, e com ela, mais segura. Hesíodo descreve Pandora como um "mal belo" (καλν κακν/kalòn kakòn).

O nome "Pandora" possui vários significados: panta dôra, a que possui todos os dons, ou pantôn dôra, a que é o dom de todos (dos deuses).

A razão da presença da Esperança com os males deve ser procurada através de uma tradução mais acurada do texto grego. A palavra em grego é λπίς/elpís, que é definida como a espera de alguma coisa; pode ser traduzida como esperança, mas essa tradução seguramente é arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o temor irracional. Graças ao fechamento da jarra por Pandora no momento certo, os homens sofreriam somente dos males, mas não o conhecimento antecipado deles, o que provavelmente seria pior.

Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis. Prometeu felicita-se assim de ter livrado os homens da obsessão com a própria morte. Uma outra interpretação ainda sugere que este último mal é o de conhecer a hora de sua própria morte e a depressão que se seguiria por faltar a esperança.

Um outro símbolo está inserido neste mito. A jarra (pithos) nada mais é que uma simples ânfora: um vaso muito grande, que serve para guardar grãos. Este vaso só fica cheio através do esforço, do trabalho no campo, seu conteúdo então simboliza a condição humana. Por consequência, será a mulher que a abrirá e a servirá, para alimentar a família.

A mentalidade politeísta vê Pandora como a que deu ao homem a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e da adversidade (o que os monoteístas chamam de males). Ela lhe dá assim a força de enfrentar estas provas com a Esperança. Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Biografias : Bocage e O'Neill









Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage, nasceu em Setúbal a 15 de Setembro de 1765.

Filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa (também ele poeta), nascido em Setúbal em 1728, juiz de fora (cargo que exercia durante o terramoto de 1755). Em 1765, foi nomeado ouvidor em Beja. Acusado de ter desviado a “décima” enquanto ouvidor, possivelmente uma armadilha para o prejudicar visto ser próximo de pessoas que foram vítimas em Pombal, foi para o Limoeiro preso em 1771, nunca chegando a fazer defesa das suas acusações. Com a morte do rei D. José em 1777, dá-se “viragem” que lhe valeu a liberdade, voltando para Setúbal onde foi advogado. Sua mãe D. Mariana Joaquina Xavier l’Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era francês, era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa, madame Marie Anne Le Page du Bocage.

A sua infância foi infeliz. Para além da prisão do pai quando ele tinha seis anos, durante seis anos, a sua mãe faleceu quando ele tinha dez anos.

Possivelmente ferido por um amor não correspondido, assentou praça como voluntário em 22 de Setembro de 1781, permanecendo no exército até 15 de Setembro de 1783 altura em que se alistou na marinha de guerra, embarcando para a Índia três anos depois. Viveu em Goa, Damão e Macau. Foi admitido na Escola da Marinha Real, onde fez estudos regulares para guarda-marinha. No final do curso desertou, mas, ainda assim, foi nomeado guarda-marinha por D. Maria I.

Apesar das biografias publicadas após a sua morte, boa parte da sua vida permanece um mistério. Não se sabe ao certo os seus estudos, embora se deduza pela sua obra, que tenha estudado os clássicos e as mitologias grega e latina e que estudou francês e latim.

Bocage foi um dos primeiros a anunciar a modernidade em Portugal, pelos conflitos que dão força e contundência a seu estilo poético. No seu regresso a Lisboa (1790), apaixonou-se pela mulher do irmão e entregou-se à boémia, escrevendo versos sobre a desilusão amorosa e as dificuldades materiais.

Aderindo à Nova Arcádia com o nome de Elmano Sadino, logo satirizou os confrades e afastou-se do grupo, continuando rebelde e obcecado pelo paralelismo biográfico com Camões.

Em 1797 foi preso ao divulgar o poema “Carta a Marília”, que começa com “Pavorosa ilusão de eternidade”. Acusado de impiedade e anti-monarquismo, passou meses nas masmorras da Inquisição, de onde saiu para o Convento dos Oratorianos conformando-se às convenções religiosas e morais da época. De volta à liberdade, Bocage levou uma vida regrada mas melancólica e de privações, traduzindo autores latinas e franceses.

Maior poeta da língua no século XVIII, Bocage é vítima até hoje de sua própria fama e dos preconceitos que despertou. Sonetista admirável e frequentemente à altura do seu ídolo Camões, excede-o aqui e ali no seu arrojo e no niilismo dos motivos: “Louca, cega, iludida humanidade” é algo já distante da atitude clássica e tem um último verso que chega a parecer existencialista: “Pasto da Morte, vítima do nada!”. Assim é também seu individualismo, seu conflito entre o amor físico e a morte, sua morbidez a atracção pelo horror, em meio a versos, às vezes, quase coloquiais.

Bocage publicou apenas as Rimas (1791/1804), em três volumes. Seus versos eróticos e burlescos circulam ainda hoje em edições clandestinas.

Morreu em Lisboa em 21 de Dezembro de 1805.



Alexandre O'Neill

Poeta português, descendente de irlandeses, Alexandre O'Neill nasceu no dia 19 de Dezembro de 1924 na cidade de Lisboa. Filho do bancário António Pereira de Eça O'Neill de Bulhões e de Maria da Glória Vahia de Castro O'Neill de Bulhões, dona de casa, Alexandre, depois de concluir os estudos do Liceu, ingressa na Escola Náutica de Lisboa (Curso de Pilotagem). Em 1944, após concluir o 1º ano, solicitou, junto à capitania de Lisboa, a cédula marítima, que lhe permitira exercer a função de piloto. O pedido foi-lhe negado por causa da sua miopia.

Trabalhou na Providência no ramo dos seguros, nas bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian e foi técnico de publicidade. Durante algum tempo, publicou uma crónica semanal no Diário de Lisboa.

Datam do ano de 1947, duas cartas de O’Neill que demonstram o seu interesse pelo surrealismo, dizendo numa delas possuir os Manifestos de Breton e a Histoire du Surrealisme de M. Nadeau. Por volta de 1948, fundou com o poeta Cesariny, José Augusto França, António Pedro e Vespeira o Grupo Surrealista de Lisboa.

Em 1949 Alexandre O’Neill publicou “A Ampola Miraculosa”, constituída por 15 imagens, sem qualquer ligação e respectivas legendas, sem que entre imagem e legenda se estabelecesse um nexo lógico; o que torna altamente irónico o subtítulo da obra “romance”. Esta obra poderá ser considerada paradigmática do surrealismo português.

Foram lançados ainda nesse ano, os primeiros números dos Cadernos Surrealistas. Em Maio do mesmo ano, foi a vez do Grupo Surrealista Dissidente, organizar uma série de conferências com o título geral “O Surrealismo e o Seu Público”, em que António Maria Lisboa leu o que se pode considerar o primeiro manifesto surrealista português.

Depois de uma fase de ataques pessoais entre os dois grupos (1950/52), que atingiram sobretudo José Augusto França, e após a morte de António Maria Lisboa, extinguiram-se os grupos surrealista, continuando todavia o surrealismo a manifestar-se na produção individual de alguns autores, incluindo o próprio Alexandre O’Neill, que se demarcar, já em 1951, no “Pequeno Aviso do Autor ao Leitor”, inserido em “Tempo de Fantasmas”.

Na segunda parte da obra, “Poemas” (1950/51), essa influência, embora ainda presente, é atenuada, como acontecerá em “No Reino da Dinamarca” (1958) e “Abandono Vigiado” (1960). A poesia de Alexandre O’Neill concilia uma atitude de vanguarda (surrealismo e experiências próximas do concretismo) – que se manifesta no carácter lúdico do seu jogo com palavras, no seu bestiário, que evidencia o lado surreal do real, ou nos típicos “inventários” surrealistas – com a influência da tradição literária (de autores como Nicolau Tolentino e o abade de Jazente, por exemplo).

Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses, destruindo a imagem de um proletário heróico criada pelo neo-realismo, a que contrapõe a vida mesquinha, a dor do quotidiano, vista no entanto sem dramatismos, ironicamente, numa alternância entre a constatação do absurdo da vida e o humor como única forma de se lhe opor.

Alexandre O’Neill morre em 1986.








AUTO-RETRATO


Morena,
De cabelos já grisalhos;
Pequenina,
Mas chegando
Onde os mais altos chegam.
Africana de nascimento,
Que um dia
O negro homem expulsou
Da terra, pela cor da pele.
Bondosa, prestável, tranquila,
Dizem de mim;
De mau feitio às vezes e refilona,
Também.
Honesta e batalhadora,
Sei que o sou.
Amante da natureza
E tudo quanto é belo,
De um momento de Paz
E boa música, não abro mão.
Quem eu sou afinal!?
Margarida de primeiro nome
Rosa, mas sem espinhos, o segundo.

Amigos muito queridos
Um dia, de mim escreveram:

Generosa, até mais não,
Uma mulher de coragem,
Inconfundível de coração,
Dá-nos, de si, radiosa imagem,
A todos dando a sua mão.

Cem por cento caridosa,
É uma alma boa, em suma,
Sendo Margarida Rosa,
São duas flores em uma.”

Margarida é o seu nome
Ainda no berço lho deram
Raramente gosta de sair
Gordinha ela é, mas fica bem
Anda a pé quanto tem tempo
Ri com vontade quando acha graça
Inveja de ninguém, não sente
Dá amor, amizade a todos
Anda feliz mesmo que o mundo não esteja.”

sexta-feira, outubro 03, 2008

REFLEXÕES

“The blue eye”

Gostei muito deste documentário, porque infelizmente retrata a realidade. Ainda é o que se vê no dia-a-dia em pleno século XXI. Parece que as ideias do Hitler no que diz respeito ao “apuramento da raça”, em alguns casos, ainda persistem.
Gostei da actividade porque nela pude exprimir as minhas ideias sobre este assunto.


“Racismo e Discriminação”

Este trabalho, infelizmente, fez-me recuar no tempo. É muito difícil ultrapassar determinadas situações e principalmente esquecer o que nos fazem passar.
Tento não pensar, mas quando surgem momentos que, como foi agora o caso desta actividade, me fazem lembrar, sinto-me como se estivesse a passar novamente pelo mesmo.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Racismo e Discriminação

Reflexão

1 – Que situações da sua vida em que sentiu racismo e/ou discriminação?
MR.: Senti o racismo após o 25 de Abril em Luanda em que o meu pai quase foi morto por ser branco, e nós por sermos filhos dele. E a minha mãe, apesar de angolana, mas por ser de origem e viver com um branco, também foi insultada à porta de casa, num bairro onde todos vivíamos e convivíamos em comunidade.

2 – De que modo este tipo de situações pode limitar/condicionar os saberes adquiridos ao longo de vida?
MR.: Acho que quando somos criados e educados a olhar e aceitar os outros somo nosso semelhante, e quando realmente o fazemos, ao passar por situações como eu passei e outras pessoas passaram, ficamos a pensar: o que é que mudou e porque é que mudou.
No caso de África, acredito que tenha sido da revolta acumulada desde o tempo dos escravos e por aí fora. Só que quem os fez passar por isso, já lá não estava naquela altura, e como diz o ditado: “pagou o justo pelo pecador”.

Blue Eyes

Ficha de trabalho

1 – Antes do filme:
A – Será que as crianças odeiam de forma instintiva pessoas diferentes deles? Porquê?
MR.: Acho que não, embora sempre se encontre uma ou outra preconceituosa. Isso talvez se deva à falta de informação/educação da parte dos adultos.
B – Pode uma sociedade ser educada para odiar? Pode concretizar com exemplos da nossa história? E na nossa sociedade de hoje?
MR.: Pode e na nossa história podemos encontrar exemplos, como o caso da Alemanha hitleriana; o caso das ex-colónias; o caso da África do Sul com o apartheid. Na nossa sociedade de hoje temos o caso dos skinheads, a própria juventude de hoje, com a formação de gangs e todo a rivalidade que com isso se forma.
C – O que é o preconceito? É aprendido? Quem o ensina?
MR.: É uma ideia ou conceito pré concebido. Pode ser aprendido mas geralmente já nasce com a pessoa e quem ensina é a própria sociedade.

2 – Durante o filme:
Este acontecimento verídico foi filmado em 1964 depois do assassinato de Martin Luther King. Jane Elliot, uma professora do terceiro ano em Riceville, Iowa, fez uma experiência com os seus alunos durante a Semana da Irmandade. Observe como as crianças reagiram ao ser nomeadas como inferiores ou superiores durante aquele dia. O que verificou?
MR.: As crianças ficaram todas entusiasmadas com o facto de poderem entrar na brincadeira da professora. O que eu verifiquei foi: primeiro um sentimento de estranheza e admiração por não estarem habituados a serem tratados com diferença, porque a professora disse que os meninos de olhos azuis eram os mais espertos; depois um sentimento de tristeza por serem “proibidos” de brincar uns com os outros, que só podiam beber água em copos de papel achando mesmo que a professora já não gostava deles; e finalmente um sentimento de revolta por serem tratados com indiferença pelos colegas, chegando mesmo a baterem-se.

3 – Depois do filme:
A – Faz por vezes julgamentos sobre outros que pensam serem realmente preconceituosos? Explique.
MR.: Faço porque eu detesto o preconceito, logo não gosto de pessoas preconceituosas. Gosto de me dar com toda a gente, independentemente da raça ou religião, e dói-me ver por parte das outras pessoas atitudes que eu acho incorrectas.
B – Pode sugerir maneiras de reduzir o preconceito?
MR.: Acho que pode começar por toda a gente se dar bem; procurar viver em comunidade para depois se viver em sociedade.
C – O que pensa que deveria ser feito nas escolas para ensinar as crianças a apreciar os outros individualmente?
MR.: Ensinar-lhes a ver o outro como semelhante, como um ser humano como eles são. Que a diferença apenas existe na cor da pele.
D – Concorda com a afirmação de Mrs Elliot que “as crianças têm que descobrir. Têm que ser envolvidas… elas têm que sentir como é ser pisadas por outros…”? Porquê?
MR.: Concordo porque infelizmente o ser humano só aprende passando pelas situações. Só sabe dar valor ao que o outro passa e sofre, quando ele próprio passa pelo mesmo, quando sente na própria pele o que os outros sentem.