domingo, novembro 16, 2008

The Constante Gardner


Este filme, mostra a pura realidade do mundo em que vivemos.

Haverá sempre o contraste entre os ricos e os pobres nas grandes cidades, nas grandes capitais.

Haverá sempre dor, sofrimento, injustiça para o lado do mais fraco; este, infelizmente é e será sempre o povo africano.

Haverá sempre indústrias a quererem testar os seus produtos, alegando terem o medicamento certo para o mal que os afecta, e a troco, muitas vezes, de um prato de comida, coitados, fazem tudo pensando que será para o bem deles.

Só vivendo de perto com esse povo tão sofrido, se pode valorizar o que passam. Enquanto os todo-poderosos vivem à grande, sendo que a única preocupação é saber quantos milhões aquele produto vai render, independentemente se causa mortes ou não.

Esta é a realidade que eu vi neste filme, vivendo de perto como eu já vivi o drama destas pessoas.



sábado, novembro 08, 2008







Literatura - Século XIX

A actividade literária do século XIX é verdadeiramente impressionante, não só pela diversidade ou pela qualidade como também pela quantidade! Aqui, novamente a disputa entre o Romantismo e o Realismo, entre o antigo e o novo, entre a forma e o conteúdo.

A literatura nesta época é caracterizada por uma maior liberdade na inspiração e uma maior consciência científica na reflexão. Estes dois caracteres, sucedendo-se em preponderância, subdividem este movimento em dois períodos: o primeiro que se pode chamar romântico, o segundo que se pode designar como crítico (realismo, naturalismo). Ambos, em Portugal como na Europa, representam uma regressão à Natureza: no primeiro período sob uma forma tumultuária e inconsciente, no segundo sob uma forma reflexa e filosófica. Daí a superioridade da epopeia e do drama no primeiro, e do romance e da crítica no segundo.

O Romantismo português está sobretudo ligado a Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Feliciano de Castilho. Obras como: Frei Luís de Sousa e as Folhas Caídas são tipicamente românticas.

O Realismo está relacionado com Antero de Quental, Eça de Queirós e Oliveira Martins (Geração de 70). Esta geração agitou a literatura portuguesa e de modo mais amplo, a própria cultura portuguesa na célebre Questão Coimbrã. Portugal Contemporâneo (Oliveira Martins), Os Maias (Eça) e Odes Modernas (Antero de Quental) são os principais exemplos deste movimento.


Pintura - Século XIX

Ao nível da pintura, evoluiu-se do Romantismo para o Realismo (opostos). Na segunda metade do século, apareceu o Impressionismo.

Assim, passou-se de um estilo no qual a forma era o mais importante (muitas vezes falseava-se o conteúdo para obter mais bonitas formas) – Romantismo – para um estilo onde o conteúdo passou a ter maior preponderância (tudo passou a ser retratado com maior rigor, eventualmente, cientifico) – Realismo. As principais figuras da pintura desta época são ainda hoje muito reconhecidas por todos. A forma mais extrema do Realismo é o Naturalismo (retrato exacto da Natureza).

Conto: A Loura Esperta

Menina Vilaça de apelido, Luísa, assim se chamava a bela loura de cerca de vinte anos, vivia com sua mãe, igualmente bela mas de cabelo preto e anelado, numa casa cuja vidraça tinha uma cortina de cassa bordada.

Luísa, tinha pele branca e ao mesmo tempo rosada fazendo lembrar velhas porcelanas; ar fresco e fino, como se se tratasse de uma medalha antiga (diriam velhos poetas pitorescos); conjunto de “virtudes” que chamavam a atenção de qualquer rapaz da época.

Esta bela loura que só gostava de usar coisas finas a condizer com o seu ar, escondia atrás de toda essa aparência, algo que só mais tarde, aquele por quem se apaixonou viria a descobrir.

Pois é, foi assim que o otário do Macário caiu que nem um patinho e quase se “enforcou”, coitado. Também, quem não cairia? Ver uma bela loura encostada ao peitoril da varanda, com um vestido de cassa com pintas azuis, de lenço de cambraia trespassado sobre o peito, as mangas pendidas com rendas, de leque na mão pequena, meiga e amorosa, com unhas polidas como marfim… Bem, a questão do leque deixou o pobre do rapaz intrigado e ao mesmo tempo curioso!

É que o leque era muito rico e fino! Era uma ventarola chinesa, redonda, de seda branca com dragões escarlates bordados à pena, uma cercadura de plumagem azul, fina e trémula como uma penugem, e o cabo de marfim, donde pendiam duas borlas de fio de ouro com incrustações de nácar à maneira persa! Um leque desses, maravilhoso, naquele tempo não era para qualquer uma!

Foi assim que a bela loura chamou a atenção do rapaz otário, desculpem, Macário. Mas ela também reparou nele, a safada! E como o tinha já debaixo de olho, vai com a mãe fazer compras. Mas sem dinheiro, claro! Ainda por cima comprar casimiras pretas! Estão a ver a fisgada, não estão? Vão ao armazém comprar um tecido que não vai ser útil, só para ela o ver de perto, falar com ele. Possivelmente já devia saber quem era ele! Ela era loura, mas não era burra! Com aquele ar simples, indiferente…hum… está-se mesmo a ver o que ela queria! Fisgá-lo, lógico!

Coitado do Macário! Ficou louquinho por ela; tão louco que se zangou com o tio por causa da loura! Mas ainda bem que não casou com ela! Porque, vejam lá! num dia em que ele a leva às compras para o casamento, enquanto a mãe escolhe o tecido para o vestido, ela, como quem não quer a coisa, leva-o para a ourivesaria. Ele aproveitou para comprar-lhe um anel de noivado. Mas ela que já tinha pensado na marosca, ia examinando as montras de veludo azul, onde reluziam as grossas pulseiras cravejadas, os grilhões, os colares de camafeus, os anéis de armas, as finas alianças frágeis como o amor (amor, pois sim!).

A safada, enquanto o caixeiro mostrava anéis a Macário, ia experimentando, dizendo que não a uns e outros, porque uns eram grandes, outros pequenos, outros ainda eram feios. No meio da confusão, mas debaixo do olho do caixeiro (ele não era parvo), com a mão de cera, com veias docemente azuladas e dedos finos e amorosos (aproveitou-se disso!), toca de tirar um anel e escondeu-o. Mas como o caixeiro era de Olhão, reparou e não deixou que saíssem da loja sem que o pagassem. Claro, eu faria o mesmo! Só assim o Macário ficou a saber quem era a noivinha, ou seja, uma ladra. Era assim que ela conseguia as coisas caras.

sábado, novembro 01, 2008

HISTORIA DE VIDA

Nasci na Vila de Ambriz, em Angola, em Março de 1956. Aos 10 meses os meus pais foram para Luanda, onde vivi até aos 19 anos.

Fui baptizada com 5 anos numa igreja muito bonita: Igreja Nossa Senhora da Nazaré, no dia 10 de Maio.

Com 6 anos entrei para a escola.

Quando tinha 8 anos, a caminho da Vila de Caxito, onde o meu pai trabalhava como gerente duma firma (e onde eu e os meus irmãos passávamos férias), os meus pais tiveram um acidente que quase lhes tirou a vida. Nesse acidente a minha mãe perdeu o antebraço e quase perdeu a vista.

Completei o ensino primário com 9 anos. Nesse ano lectivo fiz a 1.ª comunhão na Igreja da Sagrada Família, com um vestido que já não pôde ser feito pela minha mãe pelos motivos já referidos.

Entrei para o 1.º ciclo com 9 anos e aí começou a minha derradeira caminhada nos estudos, pois cada ano escolar era feito em dois. Não por burrice, mas por preguiça de estudar o que levou também ao desinteresse pelos estudos. Até que, por volta dos meus 15, 16 anos, não podendo já matricular-me de dia no liceu, mas com possibilidade de ir para uma escola técnica por ter passado no exame de admissão feito após a 4.ª classe, iniciei os estudos na Escola Comercial no Curso Geral de Administração e Comércio. Pelas bases que eu levava – porque fica sempre alguma coisa guardada ou porque talvez fosse já vocação para a área – finalmente comecei a ter interesse pelos estudos e tinha-os mesmo encarreirados.

Mas, infelizmente para mim, deu-se a Revolução de Abril. O que para mim estava a começar a ser a sério e bonito, de repente... Foi como se estivesse a meio duma construção com peças de dominó e com um simples gesto viesse abaixo tudo o que já tinha construído.

Tivemos que deixar a casa – construída com muito sacrifício 50 anos depois de o meu pai ter ido para Angola – pois o meu pai esteve à morte por ter sido atacado perto de casa, e um ano depois viemos para Portugal.

Vi-me num país estranho e com os meus pais a viver com dificuldades, o interesse pelos estudos era nenhum, para além de não ter encontrado também quem me indicasse uma escola para que eu pudesse continuar a estudar.

Por volta de 1977/78 surgiu uma oportunidade de trabalho; numa pastelaria no Terminal do Rossio – Pastelaria Kinaxixe. Como iria trabalhar por turnos e com receio que algo acontecesse à única filha que nunca saiu de casa a não ser para estudar, e embora tivesse já 21 anos, foi com muito custo que o meu pai deu autorização para trabalhar. Foi o meu 1.º emprego. Uma boa experiência para começo de vida, por lidar com o público. Trabalhei 2 anos, ao fim dos quais me despedi, porque infelizmente sou um bocado temperamental e não aceito determinadas coisas. Entretanto o meu pai ofereceu-me o curso de dactilografia. Depois, através de um anúncio de jornal, arranjei trabalho numa Escola de Dactilografia onde exercia as funções de dactilógrafa, porque a Escola também recebia trabalhos para serem dactilografados.

Em Junho de 1981 conheci o meu companheiro e mais uma vez a minha vida tomou outro rumo. Juntos os trapinhos, poucos meses depois vi o meu sonho de ser mãe a começar a concretizar-se.

Quando tinha 8 meses de gravidez, o meu marido foi trabalhar para o Sudão, como chefe de armazéns duma fábrica de açúcar – Kenana Sugar & Co. – e por isso não assistiu o nascimento da nossa filha mais velha. Fomos ter com ele, tinha ela 5 meses. Vivi momentos muito bons e felizes durante os 6 meses que lá estivemos – eu e filha. Vivíamos numa zona quase desértica, em que só havia vegetação graças aos sistemas de canalização feitos para que houvesse um modo de a fábrica funcionar e as condições mínimas de vida dos funcionários (que na maioria eram cooperantes de diversos países). Apesar de a fábrica ser a 3.ª maior do mundo – na altura era, e com isso trazia uma das riquezas do país: o açúcar – o povo continuava a ser pobre.

O povo sudanês é um povo muito ligado às tradições. A mulher continua a ser muito subjugada, embora haja mulheres que conseguem atingir os seus objectivos evoluindo profissionalmente, ainda assim com muitas limitações. Na classe mais baixa, a chamada classe pobre, a mulher é limitada à casa e ao cultivo ou outros trabalhos mais forçados. Na zona onde estive, não se via uma mulher a trabalhar em casas particulares, isso era para o homem.

Findo o contrato, regressámos a Portugal.

Em finais de 1985 o meu marido foi outra vez para fora. Desta vez para Maputo, Moçambique, trabalhar como monitor numa firma portuguesa – Entreposto.

Moçambique, terra boa, de povo acolhedor, humilde, com atitudes e maneiras bem tradicionais, muito próprias! Povo alegre; podemos comparar um pouco com o povo brasileiro; podem ter pouco que comer, mas havendo música, fazem uma festa (um dos pontos que comoveu o já falecido Papa João Paulo II aquando da sua visita a Moçambique). Alguns meses depois de estar em Maputo, engravidei da minha filha mais nova. Como não estava a passar bem nos primeiros meses, receoso que algo corresse mal devido à falta de condições de uma maneira geral no sector hospitalar, o meu marido mandou-me para Portugal. Aqui estive até a minha filha completar os 3 meses de idade, altura em que regresso a Moçambique. Pouco tempo depois o meu marido foi transferido para o norte – Cidade de Nampula. Mais uma terra para conhecer, com muitas dificuldades, muita falta de água e cortes diários de energia, mas com o tempo, a adaptação foi boa; fiz boas amizades. Dois anos depois, regressámos a Maputo porque era altura da filha mais velha entrar para a escola e só aí é que havia escola portuguesa. Foi mais ou menos nessa altura que através do meu marido, entrei para a Doutrina Espírita. Mais dois anos e voltámos para Portugal e para ficar. Com tristeza deixei para trás amizades e aquela terra de bom clima e de povo humilde para onde voltaria hoje mesmo se fosse possível.

Pouco tempo depois, as dificuldades surgiram. Sem trabalho, com duas filhas para criar, uma delas na escola... Por indicação duma pessoa amiga fui inscrever-me na Cablesa – fábrica de cablagem de automóvel – onde trabalhei a soldar terminais nos fios eléctricos, durante 6 meses. Ao fim desse tempo, recebi a carta de despedimento. Foi uma experiência muito boa, que me permitiu compreender o trabalho de fábrica. Durante 1 ano e meio estive a receber do desemprego e a cuidar das filhas auxiliando-as nos trabalhos escolares. Quando o desemprego acabou e como o ordenado do meu marido era baixo, através do padre da paróquia de Mira Sintra, comecei a trabalhar a horas numa casa particular. Depois arranjaram-me mais três casas. Entretanto surgiu-me a oportunidade de trabalho na escola, onde estou até agora exercendo as funções de Auxiliar de Acção Educativa, mantendo uma das casas só para ir passar a ferro.

Trabalhar como auxiliar numa escola, é algo que nos enriquece; passamos a conhecer o mundo do outro lado do estudante. O lado que enquanto estudante eu não conhecia. No meu tempo, encontrávamos as salas limpas, mas quase não víamos (eu pelo menos) o pessoal auxiliar. É também conhecermos um pouco melhor aquele lado ao qual não tínhamos acesso, que é o lado dos professores. Lidamos mais directamente com eles, ganhando muitas vezes amizade com alguns. É saber lidar com os alunos, ficar a conhecer o verso da medalha. É ficar a conhecer, muitas vezes, os problemas pelos quais muitos dos alunos passam em casa; começarmos a compreender um pouco o porquê das dificuldades que muitos alunos têm na aprendizagem, no lidar e no conviver com os outros, no relacionamento com os colegas e até mesmo com os professores e auxiliares.

Em 2002, surgiu a oportunidade de adquirir as competências do nono ano através do RVCC, inscrevi-me e lá fui, aliás esta história de vida foi começada para o portefólio do nono ano.

Gostei muito, aprendi alguma coisa, conheci gente nova, tive a oportunidade de fazer um pequeno aprofundamento de TIC, o que me foi muito útil para que eu pudesse passar os meus trabalhos a computador.

Durante estes anos de trabalho nesta escola, tenho feito algumas acções de formação, como por exemplo: Escola Promotora de Saúde, Higiene, Segurança e Saúde nas Escolas, Comunicação e Relações Interpessoais, Curso de Computadores: Iniciação, Aprofundamento e Internet.

Ao fim de 10 anos a trabalhar na que é hoje a sede do agrupamento D. Domingos Jardo, fui posta a trabalhar numa das escolas do 1.º ciclo que a ele estão agregadas: a EB1 da Baratã. É uma escola pequenina, com uma única turma de alunos dos quatro anos lectivos, apesar de estar no meio de habitações grandes e quintas, é uma escola isolada, muito fria no Inverno devido a tanto arvoredo que tem à volta.

No início foi-me muito difícil adaptar-me à mudança. Habituada ao movimento duma escola grande, a ter colegas com quem conversar à hora do almoço, a ter uma colega com quem desabafar um ou outro problema, de repente vi-me sozinha, sem ninguém com quem falar a não ser a professora. Com o tempo, fui-me habituando e embora ainda me custe ir para aquele fim do mundo (como eu costumo dizer), já estou mais ambientada, tenho um bom relacionamento com a professora e com os meninos. Meninos muito diferentes dos da outra escola; com muito mais problemas em todos os aspectos. Não fosse a força de vontade da professora e o interesse por eles, muitos não iam à escola.

Em 2007, através de uma colega muito querida, soube destes Cursos EFA. Inscrevi-me, e aqui estou a tentar fazer o meu 12.º ano. Tem sido uma experiência muito boa; a turma não poderia ser melhor; parece que foi escolhida a dedo; os professores também. Tenho tido algumas dificuldades, mas com um pouco de ajuda deste ou daquele colega, dos professores, da professora com quem trabalho e das minhas filhas, vou conseguindo ir em frente. Tenho tido a oportunidade de conhecer assuntos dos quais nunca pensei vir a saber, porque nunca me interessou; aprendendo coisas de que não tinha conhecimento; e espero vir a conseguir o objectivo a que me propus.